Sobre melodias que contam histórias

16 jul 2019
Foto: Mohammad Metri

Eu sempre tive o costume de criar uma trilha sonora para cada época da minha vida. Tenho playlists com as músicas principais das minhas séries e filmes preferidos que, quando escuto, é como se eu me teletransportasse para aqueles cenários onde os personagens principais vivem. Também gosto de criar playlists novas quando sinto que estou passando por uma nova fase, compostas por faixas que me inspiram a construir novas histórias com a mesma firmeza que os meus personagens fictícios favoritos. É claro que na vida real não é tão simples, mas tem poesia do mesmo jeito.

A música está completamente interligada com o tempo. Acho que por isso é tão natural relacionarmos momentos marcantes das nossas vidas com ela. Me lembro bem de uma cena da minha infância em que coloquei uma música do Kid Abelha para tocar- uma das que mais escuto até hoje- e fiquei observando a cidade pela janela da varanda, olhando o mais longe que eu podia enxergar e imaginando mil coisas. Eu devia ter uns cinco anos nessa época. Até parece que com essa idade eu tinha tantas coisas assim para refletir. Mas acho que devo ter nascido com mania de intensificar as coisas a partir do que eu escuto.

Minhas amigas sempre me falam que eu tive muitas fases de fã. Desde pequena, quando gosto de alguma coisa, eu me envolvo por completo. Meio termo comigo não funciona. E foi assim com todas as bandas que eu já gostei. Quando tinha uns três anos era apaixonada pela KLB, o que significava só dormir depois de assistir a fita VHS deles, usar uma toalha com o rosto dos três integrantes estampados e tirar fotos com pôsteres de revista maiores que eu. Recentemente me veio uma das músicas da banda na cabeça, joguei o refrão no Google e logo encontrei o clipe. Lembrei na hora que era uma das cenas que eu assistia na fita. E ainda sabia cantar a música quase toda. Confesso ter rido um pouco do excesso de drama na interpretação e das roupas usadas na época, mas é incrível a maneira que a música faz a gente voltar no tempo. Ela tem um poder muito grande dentro da nossa memória. Espero sentir o mesmo quando estiver ouvindo Taylor Swift lá pros meus oitenta anos.

Tomo banho ouvindo música todos os dias. E às vezes eu me envolvo tanto na playlist que esqueço se já passei shampoo uma ou duas vezes. Tenho certeza que já devo ter passado três vezes em algum dia, sem ter percebido. Minha cabeça realmente vai longe e esse é sempre o meu momento favorito do dia. Quando estou na faculdade e tenho que ir pra uma aula que é mais longe de onde estou, coloco o meu fone de ouvido e entro em um mundo só meu. Tudo ao redor fica um pouquinho mais interessante. Já cheguei a fazer um caminho mais longo só para poder ouvir a próxima da lista.

Sentimos coisas inexplicáveis com canções específicas. Elas fazem a gente relembrar memórias antigas, tornar o momento presente mais poético ou imaginar o futuro com um friozinho na barriga impossível de sentir quando estamos em silêncio. Gosto de me expressar escrevendo, mas fico muito frustrada quando a intensidade dos meus pensamentos não consegue ser traduzida em palavras. Ainda bem que a música existe para esclarecer as coisas por mim, porque com o meu fone de ouvido ou na plateia de um show tudo parece fazer mais sentido. Se é apenas impressão ou realmente uma espécie de magia eu não sei. Só sei que eu não seria a mesma pessoa sem as minhas músicas favoritas. E a vida com certeza não teria tanta graça.

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